09/04/2020

O planeta pede água


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Entre as ações para conscientizar a população para o uso racional do recurso natural e da preservação do ecossistema está o projeto Águas da Mantiqueira

No calendário internacional, 22 de março é Dia Mundial da Água. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da resolução A/RES/47/193 de 21 de fevereiro de 1992, a data está longe de ser festejada. Serve, na verdade, para ressaltar a necessidade de conscientizar a população e governantes do uso racional desse recurso natural, diante do alerta de escassez projetada.

Segundo a ANA (Agência Nacional de Águas), estima-se que 97,5% da água existente no mundo e? salgada e, portanto, não é adequada ao consumo direto nem a? irrigação da plantação. Dos 2,5% de água doce, a maioria encontra-se em locais de difícil acesso, concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e 1% encontra- se nos rios. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado para que não prejudique nenhum dos diferentes usos que ela tem para a vida humana.  O Brasil, avalia a ANA, compartilha cerca de 82 rios com os países vizinhos, incluindo bacias como a do Amazonas e a do Prata, além dos sistemas de aquíferos Guarani e Amazonas.

A estimativa é de que o País concentre cerca de 12% da disponibilidade de água doce do planeta, mas com a distribuição desigual no mapa geográfico. A região Norte, por exemplo, possui aproximadamente 80% da quantidade de água disponível, mas representa apenas 5% da população brasileira.

Diante da importância de estampar a bandeira para o uso racional, que implica em adotar medidas de preservação do ecossistema, ações sociais como o projeto Águas da Mantiqueira são bem-vindas. A Fundação Toyota do Brasil criou o programa em parceria com a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio.

Em entrevista exclusiva à Revista ANAPP, Viviane Mansi, presidente da Fundação Toyota, explica que a proposta é oferecer apoio para o planejamento territorial, para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento socioeconômico e sustentável dos municípios da Serra da Mantiqueira. A região abriga uma das maiores províncias de água mineral do mundo.

ANAPP – Em 22 de março foi comemorado o Dia Mundial da Água. Temos no Brasil o 8º ecossistema do mundo que atende a 5 milhões de

pessoas na Grande SP.

O que é o projeto Águas da Mantiqueira, seus motivadores e objetivos? Viviane Mansi – O Projeto Águas da Mantiqueira foi criado em 2017, em parceria com a Fundepag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio). Visa o planejamento territorial, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável de municípios da Serra da Mantiqueira, onde está localizada uma das maiores províncias de água mineral do mundo, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Essas características conferem à região uma função essencial para o Sistema Cantareira, em São Paulo, que abastece diariamente mais de 5 milhões de pessoas.

ANAPP – Em que etapa se encontra?

VM – Iniciamos o projeto em Santo Antônio do Pinhal, em São Paulo, com a realização de um levantamento de dados sobre a biodiversidade local para orientar a sociedade civil e dar apoio ao poder público no uso consciente da água. Em 2019, o projeto foi estendido para o município de Sapucaia-Mirim (MG) e, em breve, chegará em Gonçalves (MG).

ANAPP – Na visão do projeto, ocorrem avanços significativos na conscientização da sociedade sobre a importância da água e preservação do

meio ambiente?

VM – Para nós, os resultados são muito positivos e melhoram a cada ano. É um excelente sinal, pois demonstra que a conscientização está aumentando. Como exemplo, cito a entrega da pesquisa sobre direcionamentos para o planejamento territorial (uso sustentável do solo e dos recursos naturais) para a prefeitura de Santo Antônio do Pinhal. E a vontade de fazer acontecer já começou a aparecer. A Cetesb, por exemplo, assinou recentemente um termo de compromisso de recuperação ambiental para conservação da biodiversidade no município, seguindo os direcionamentos do Projeto Águas da Mantiqueira.

ANAPP – Poderia dar detalhes?

VM – No total, estão sendo restaurados 14 hectares no entorno de áreas de preservação permanente no município. Isso é um reconhecimento da aplicabilidade do Projeto na recuperação de áreas degradadas por parte da Cetesb, que reforça a importância da metodologia da restauração ecológica essencial para a manutenção dos recursos hídricos na região, já que a floresta nativa é a melhor embalagem para a água. Informar a população também é uma parte importante do projeto.

ANAPP – E como a população é informada?VM – Por meio de um Almanaque (pode ser acessado no http://www.fundacaotoyotadobrasil. org.br/projetos/aguas-da-mantiqueira), os cidadãos de Santo Antônio do Pinhal conhecem mais sobre a história da cidade e dos seus antepassados, além da riqueza local, por meio de seus rios, relevo, plantas, animais e economia.

ANAPP –Dados estatísticos indicam que em 2025 o mundo terá mais de 8 bilhões de pessoas. Quais as ações necessárias para se lidar com a escassez da água no Brasil, principalmente em regiões que já sofrem com a seca?

VM – Quanto mais as pessoas conhecem o tema, mais se envolvem e mudam comportamentos. Nestes primeiros 10 anos de Fundação Toyota, nós aprendemos muito sobre sustentabilidade no nosso país. A fartura aparente pode levar a uma percepção equivocada de disponibilidade de recursos que precisa ser revisitada. No caso do Projeto Águas da Mantiqueira, nós temos auxiliado a implementação das diretrizes do projeto junto às Secretarias Municipais em Santo Antônio do Pinhal e também agora em Sapucaí-Mirim (MG). Também esperamos atuar em parceria com a Secretaria da Educação e auxiliar no desenvolvimento de um currículo escolar com conteúdo baseado nos dados da pesquisa. Dessa forma, por meio da educação, conseguiremos alcançar o desenvolvimento sustentável da região, mitigando os riscos trazidos pela escassez de água.

 

Fonte: Revista Edição 150